SPFW: a Semana de Moda ainda influencia no comportamento do consumidor?

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Evento é reconhecido por ser berço de importantes nomes nacionais e aposta em novos formatos para atrair público

  • A tecnologia tem desempenhado um papel crucial na indústria da moda, tanto na produção quanto no consumo. As marcas estão se adaptando para atender ao consumidor digital, oferecendo disponibilidade imediata de suas coleções após os desfiles.
  • Criado nos anos 1990, o SPFW é considerado o maior evento de moda da América Latina e ocupa o quinto lugar em importância no mundo. O evento foi idealizado para dar visibilidade às marcas brasileiras e à mídia especializada nacional.
  • O SPFW tem um papel importante no consumo brasileiro, influenciando o comportamento dos consumidores e apresentando ao mercado nacional novos nomes e marcas da moda brasileira

Completando a sua 53ª edição, o São Paulo Fashion Week mostrou que se mantém relevante como um dos principais eventos de moda no mundo. Atualmente com duas edições anuais, o SPFW tem como principal desafio servir como vitrine de marcas veteranas, como Colcci, Ellus e Osklen, e impulsionar novos talentos e marcas com tradição autoral.

Desde os anos 1990, o SPFW ocupa um papel de peso no mercado nacional e latinoamericano de moda, mesmo passando por períodos complicados de crises internas. Entretanto, seu principal objetivo consegue ser o fio condutor para enaltecer a criação brasileira de moda e instigar os organizadores a experimentarem novos formatos e linguagens.

Neste post, você irá conhecer um pouco mais sobre o funcionamento das semanas de moda, como o Brasil participa desse universo, e a importância do SPFW no mercado para além dos editoriais e público fashionista.

A origem da Semana de Moda

Para entendermos o surgimento das semanas de moda da forma como são conhecidas, é preciso voltar no tempo. Até o início do século XX, as roupas eram feitas sob medida para cada pessoa pelos tradicionais alfaiates. No dia a dia, homens faziam uso na maior parte do tempo de seus uniformes, e as mulheres tinham roupas para ficar em casa e roupas para sair.

Os ateliês de luxo já existiam, mas eram exclusividade das elites, principalmente das socialites, que faziam fila nos estúdios a cada nova coleção. Dessa maneira, a roupa tinha objetivo meramente funcional para a maioria da população e servia de reforço de status social para quem podia pagar os preços de uma roupa especial.

Vários desfiles de uma vez

Os estilistas da elite já realizavam desfiles para cada coleção, onde apenas clientes eram convidados e já aproveitavam para fazer pedidos na loja. Por volta de 1943, a jornalista Eleanor Lambert sugeriu a ideia de agrupar diversos desfiles no período de uma semana, facilitando a cobertura da mídia e aumentando o significado de estar presente em um evento desse tipo.

A França sempre foi conhecida como o berço da moda, em grande parte por ser lar de importantes ateliês de estilistas renomados. Ainda, com a 2ª Guerra Mundial em curso, o objetivo de reunir diversos desfiles em uma semana também foi elevar a visibilidade da moda americana, em relação ao país europeu.

Prêt-à-porter: da passarela para o mundo

Com o fim da 2ª Guerra Mundial, uma profunda crise econômica se alastrou, especialmente na Europa e na América do Norte. Se antes a elite ostentava paletós, vestidos, chapéus e acessórios feitos com tecidos primorosos, a escassez de matéria-prima somada a um novo posicionamento social exigiu um novo tipo de consumo.

Logo após o fim da guerra, o estilista francês J.C. Weil lança uma das primeiras coleções ”prontas para vestir” do mercado. Com isso, a produção reduz custos, atinge um maior número de consumidores e, de certa forma, rompe a barreira entre o mundo da moda e a indústria têxtil.

Nas décadas seguintes, surgiram as semanas de moda oficiais de Milão, Paris e Nova York, consideradas as principais no mundo até hoje. Seguindo o calendário de estações primavera-verão e outono-inverno, com coleções sazonais entre elas, as marcas dividem suas coleções entre ready to wear (disponibilidade imediata) e haute couture (público exclusivo).

O que faz São Paulo estar na semana de moda?

A década de 1990 por si só já é repleta de acontecimentos, e foi nesse período que o SPFW surgiu como proposta inovadora para o mercado brasileiro de moda. Atualmente, a Semana de Moda de São Paulo ocupa o quinto lugar em importância no mundo, juntamente a Londres, Nova York, Milão e Paris.

O SPFW é considerado o maior evento de moda da América Latina, movimentando não só o universo dos criadores de todas as gerações, como o mercado têxtil como um todo. Sua criação foi idealizada pelos empresários Paulo Borges e Cristiana Arcangeli, na época intitulada Phytoervas Fashion. O foco era dar visibilidade às marcas e à mídia especializada nacional, que replicavam o que era feito no mercado europeu e tinham acesso a tendências quase com exclusividade.

A primeira edição aconteceu em 1994 e foi responsável por lançar nomes reconhecidos até hoje, como Alexandre Herchcovitch, Glória Coelho e Ronaldo Fraga. Além deles, estilistas como João Pimenta e Reinaldo Lourenço marcaram a história do evento com desfiles memoráveis, ganhando espaço no mercado nacional com criações autorais.

Mudança de nome e conceito

Em 2016, adiantando uma tendência que seria fortemente vista alguns anos mais tarde, o SPFW substituiu o nome associado à estação do ano, nomeando o evento apenas em edições. Na ocasião, a edição foi a N41, celebrando as quarenta realizações anteriores.

A mudança permitiu que marcas e estilistas apresentassem seus desfiles sem a obrigação direta com as estações do ano. Foi também o momento em que lojas de departamento realizando coleções em colaboração com grandes estilistas internacionais, usassem o espaço para divulgar suas campanhas.

O principal motivador para a alteração foi um dos auges do see now, buy now (em português, “veja agora, compre agora”). Em um mundo digital, não faz sentido para o consumidor ver uma peça no desfile e ter que esperar meses até que ela esteja disponível na loja para compra.

Diversas marcas optaram por não realizar seus desfiles durante o evento, criando calendários individuais e dentro de conceitos próprios de acordo com cada campanha. O calendário, que também passou a ocorrer entre março e junho, faz sincronia com a época de desfiles cruise internacionais, onde aparecem coleções intermediárias das grifes de luxo.

SPFW e sua influência no consumo brasileiro

Até meados dos anos 2000, a internet ainda não era o que conhecemos hoje. Blogs, sites de nicho e matérias jornalísticas ainda tinham pouca influência no comportamento do consumidor, servindo como ponte de comunicação entre as marcas e um público ainda restrito.

Ao introduzir nomes nacionais no circuito da moda, o SPFW teve o importante papel de chamar a atenção do consumidor brasileiro para o que estava sendo produzido internamente. Mesmo usando tendências internacionais como referência, os designers que fizeram e fazem parte do SPFW ganharam espaço no mercado nacional de forma criativa.

Não à toa, diversas marcas permanecem no imaginário de quem viveu a era de ouro do evento, assim como o legado de quem integra o line up até hoje. Se na Europa o designer Alexander McQueen mostrava sua estética provocadora e punk, no Brasil, o estilista Alexandre Herchcovitch gravava sua marca com o logo de caveira e uma linguagem urbana tipicamente paulistana.

Casa de Criadores

Atualmente, o São Paulo Fashion Week aposta em trazer novos nomes a cada edição do evento, dando espaço para designers com foco em produções mais autorais. Essa mudança reflete o impacto que iniciativas como a Casa de Criadores conseguem causar no meio criativo, onde o objetivo é impulsionar novos designers e linguagens a cada edição.

O evento acontece duas vezes por ano, na cidade de São Paulo, e já foi responsável por lançar nomes como Igor Dadona, Felipe Fanaia, Gustavo Silvestre e a ”versão brasileira” da Fenty Savage, Bold Strap. Muito do trabalho realizado entre o evento e os criadores parte de colaborações, como os calçados assinados entre a P. Andrade e Rider.

A transformação das semanas de moda nos últimos anos

Se, por um lado, as semanas de moda são um tipo de Copa do Mundo para os fashionistas, por outro, são assunto de discussões profundas sobre o atual ritmo da indústria e seus impactos socioambientais. No século XX, o desfile servia como vitrine das roupas para o mercado. Hoje, essa função é cumprida pelas redes sociais, e o evento passa a ter mais objetivos além do mero visual.

Crescimento do mercado asiático

As redes de fast fashion sempre serviram de ponte entre o topo da pirâmide da moda e o consumidor comum (basta lembrar da icônica cena do filme “O Diabo Veste Prada”). Nos últimos anos, sites como AliExpress e SHEIN foram responsáveis por mudanças radicais na velocidade com que as tendências chegam aos consumidores,  impulsionando o uso de vpn para pc para compras internacionais, assim como na rapidez de criação por parte das marcas.

Segundo levantamento de 2022 da Erwan Rambourg em parceria com a Vogue Business, o continente asiático teve uma participação de 62% no consumo de moda de luxo mundial. Desse total, mais da metade está concentrada na China, onde a economia sobe em ritmo acelerado e a geração Z lidera em volume de consumo.

O ocidente atuou historicamente como centralizador das demandas de consumo, especialmente na moda, se considerarmos as semanas de moda de Paris e Milão. Com a China transformando o contexto geopolítico global, a popularidade de fenômenos culturais como o K-pop e a rede TikTok, o mercado se volta para o oriente como novo centro do mundo.

Enquanto a Europa observa um cenário de crise econômica e um crescimento na população mais velha, no oriente, a Geração Z é responsável por movimentar um mercado cada vez maior. Isso reflete no aumento da presença de marcas de luxo em países como a Coréia do Sul, e na aposta de associar suas imagens aos novos ícones da cultura pop, dialogando diretamente com a Geração Z.

Durante a pandemia, o mercado asiático de moda também teve impactos positivos. Marcas como Uniqlo, voltadas para produtos básicos e funcionais, tiveram aumento na procura, movimento inverso ao mercado ocidental, onde a cadeia de produção e consumo baseada em tendências precisou ser revista.

Enquanto grandes marcas investem em conquistar os que serão clientes no futuro, o mercado local se beneficia de forma direta e indireta. No momento em que tendências como quiet luxury e minimalismo se tornam foco no mundo da moda, marcas japonesas que possuem em seu DNA o ‘menos é mais’ saem na frente com bem menos esforço em relação a quem se adapta ao mercado.

Tendências sustentáveis

Nunca se falou tanto em sustentabilidade quanto nos dias de hoje. A preocupação em tornar os meios de produção mais limpos, reduzir o descarte de lixo e dar uma função às roupas para além do ”look do dia” está no topo da lista das novas gerações.

O surgimento de muitas fashion tech se dá tanto por uma oportunidade de mercado quanto para atender a um novo perfil de consumo. Nesse sentido, ter uma semana de moda para cada estação do ano se torna inviável, já que uma mesma peça de roupa fabricada com materiais de qualidade e comercializada no meio digital economiza recursos e atinge o consumidor de forma mais efetiva.

Pandemia de 2020

O ano de 2020 trouxe uma enorme e desagradável surpresa para o mundo: a pandemia de COVID-19. A necessidade urgente de isolamento provocou inúmeras transformações, incluindo inovações tecnológicas na moda, mudança de comportamento no uso dos ambientes digitais e, claro, no perfil de consumo das pessoas.

Com a maior ou total parte do tempo em casa, as pessoas viram pouca ou nenhuma necessidade de adquirir novas peças de roupa. Ao mesmo tempo, o mercado de moda precisou se adaptar ao contexto, e discussões como consumo consciente, sustentabilidade e viabilidade de manter os calendários de moda como aconteciam viraram assunto do momento.

Os desfiles, que antes aconteciam presencialmente, e mesmo os transmitidos ao vivo em canais de streaming, contavam com público seleto e foram revistos. Apresentar a roupa por si só já não era mais suficiente, e as marcas precisaram buscar em seu DNA e no aspecto afetivo de como alcançar seus clientes, onde produto e significado andam cada vez mais atrelados.

Internet e consumo democratizado

Antigamente, a moda ditava tendências, e o consumidor validava ou não conforme a popularidade daquela estética entre as marcas. Hoje, moda e tecnologia andam juntas, seja nas formas de produção, que buscam processos mais naturais, com recursos sustentáveis, seja no ciclo de consumo, que não mais acontece em uma via de mão única da marca para o cliente.

A transmissão em tempo real de desfiles de moda não foi uma novidade, algo já feito em 2010 na última coleção apresentada em vida pelo estilista britânico Alexander McQueen. No caso do SPFW, a escolha por realizar edições conceituais que mesclavam diferentes linguagens foi de encontro com a demanda de consumo de conteúdo do público de hoje.

Ao se posicionar como uma plataforma adaptável, o SPFW estreita a linha entre o que as marcas e criadores têm a mostrar, o que os consumidores procuram e consomem por conta própria e as tendências do mercado. Mesmo que concentrado em uma semana, o SPFW ganha uma projeção maior na internet, dando voz e sendo ouvido como espaço para todos os estilos.

O que esperar da semana de moda em SP

Parte da história do SPFW está ligada ao Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera. O local foi cenário de inúmeras edições do evento, fomentando a interação entre fashionistas e toda a cena criativa da cidade por muitos anos. Seguindo a proposta das edições anteriores, o SPFW N55 descentralizou os desfiles, embora ainda mantendo o Komplexo Tempo como casa oficial do evento.

A primeira edição de 2023 do São Paulo Fashion Week celebrou os 20 anos de carreira do estilista João Pimenta, em grande estilo, com uma abertura no Theatro Municipal. Além disso, apresentações em locais como Senac Lapa e Shopping Iguatemi reforçaram o compromisso do evento com uma comunicação circular e de público variado.

O tema escolhido, “Origens/Ressignificar”, trouxe à tona uma característica presente no evento desde sua criação: o olhar atento ao patrimônio nacional, a diversidade criativa do brasileiro e a relação íntima entre moda e o contexto social da atualidade. A plataforma visual em que o evento ainda se baseia para acontecer ganha uma riqueza maior ao se abrir para conversas externas ao cenário da moda.

A ausência de grandes nomes, como Glória Coelho e Alexandre Herchcovitch, que optaram por apresentar suas coleções de forma independente de calendários, não prejudica a imponência do SPFW. Ao trazer nomes desconhecidos e igualmente talentosos, o evento cria um vínculo admirável com o consumidor de hoje, e se renova sem forçar.

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